terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Invictus

Eu sou recente com os trabalhos do Clint Eastwood. Já tinha visto As Pontes de Madison, mas isso tem uns 5 anos e confesso que pouca coisa ficou na minha cabeça. Mas esse mês eu entrei na vibe-clint e vi seus dois filmes oscareados, Menina de Ouro e Os Imperdoáveis. Que detonam. Semana passada, aproveitei a vibe pra ver seu novo filme, Invictus.

O filme narra ascensão de Nelson Mandela ao poder, e seu grande desafio de formar um país unido, com brancos e negros vivendo em paz. Para isso, Clint faz um recorte bem específico, mostrando como o líder sul-africano se utilizou do esporte que é a paixão nacional, o Rugby, para unir brancos e negros. Não que usar o esporte para unir a população em torno de um mesmo objetivo seja novidade para qualquer brasileiro ligeiramente bem informado (leia-se ditadura e o seu "Pra Frente Brasil").

O filme é muito bom, mas carece da consistência apresentada pelos filmes passados do Clint. Um ponto que me incomodou, por exemplo, foi o foco excessivo no recorte escolhido. Não que isso seja algo ruim, mas em diversas cenas temos a impressão que Mandela era meio bitolado, que ele estava, digamos, cagando e andando para os outros problemas (graves) do país, como a criminalidade, a economia, etc. Clint poderia ter simplesmente deixado isso de lado, já que não era o foco do filme, mas não, ele fez questão de botar a secretária do Mandela enchendo o saco dele a cada minuto sobre isso e o cara só queria saber de rugby. Um pouco forçado, eu diria.

Houve também algumas tentativas de dramatizar ainda mais o personagem do Mandela, mostrando como sua família era desestruturada. É feito todo um drama sobre isso em algumas cenas, como quando ele até DESISTE de sua caminhada diária só por terem perguntado sobre sua família ou em uma das poucas cenas que sua filha aparece, pra dar um fora nele sobre uma pulseira. E depois disso, o que temos? NADA. Nada mais é mencionado e resta ao espectador decidir se a vitória no rugby foi suficiente pra família fazer as pazes ou se tudo continuou uma grande merda.

O que mais me incomodou, porém, foi a falta de sutileza em muitas cenas do filme. Tipo a cena do avião: que porra foi aquela? Tentativa barata de criar um clima de suspense, sem a menor necessidade, sem a menor sutileza. E não é como se o Clint não soubesse ser sutil. A sequência do garotinho negro com os guardas ouvindo o jogo no rádio mostra bem do que o Clint é capaz. Foi a melhor cena do filme, by far.

De resto o filme se segura nas atuações do Morgan Freeman, que personificou o Mandela como poucos (seria legal ele ganhar o oscar de ator principal, sendo ele um eterno coadjuvante) e do Matt Damon, que se deu bem fugindo um pouco dos papéis nerds clássicos dele, dando a personalidade certa pro personagem do capitão do time de Rugby sul-africano, sem cometer o exagero de soar muito dramático ou carismático demais. O personagem ficou perfeitamente real nas mãos de Damon.

Destaco também as cenas de Rugby, muito bem gravadas. Quem gosta de filme de esporte sabe o quanto é difícil dotar as cenas de realismo. Clint obteve um grande êxito nesse ponto.

Um bom filme, mas confesso que esperava mais.

Direção: Clint Eastwood
Ano: 2009
Link: IMDb