quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Um pouco de Cornwell

Saindo do marasmo desse blog, vamos, primeiro, às desculpas:

1. Estou fazendo vestibular (yes, again, go figure). Quem arranja tempo pra blogs fazendo vestibular?
2. Criei um blog novo com o Nandes. A temática, dessa vez, é definida, apenas música. Quem quiser entrar, clique aí em cima e divirta-se.
3. Eu sei que o argumento número 2 anula o argumento número 1. Ignorem.
4. Tenho lido como poucas vezes li na vida. O que me tira algum tempo de mofo (leia-se: tempo de vir postar no blog), mas ao mesmo tempo me dá boas idéias para posts. Nesse sentido, esse post começa a seguir:

Nesse último mês li dois livros do Bernard Cornwell, dois livros que são um tanto desconhecidos aqui no Brasil. Achei-os na Travessa do Barra Shopping, ambos por cerca de 17 reais, a versão importada, em inglês. Não há versão nacional, então nesse caso ou você lê em inglês mesmo ou espera por um dia em que resolvam traduzi-los (dica: esse dia pode nunca chegar).

Os dois livros são marcantes pois traz um Cornwell com características bem diferentes do que nós brasileiros estamos acostumados.

O primeiro, The Fallen Angels, chama a atenção por ter uma co escritora, Susanah Kells, assinando o livro junto com o Cornwell. Fiquei curioso com o impacto que isso teria na história e se eu conseguiria perceber a diferença, mas na verdade esse impacto é bem claro pra qualquer um que já tenha lido alguns livros do Cornwell. Em primeiro lugar, a protagonista é uma mulher. Eu já li uns 10 livros dele e essa é a primeira vez que eu vejo uma protagonista mulher. No mesmo sentido, o romance da história (pois sempre há de haver um romance =P) recebe uma ênfase muito maior, e é decisivo pro desenrolar da trama. A trama se passa durante a época do Terror, na Revolução Francesa, aonde qualquer pessoa poderia ir para a guilhotina por espirrar sem pedir licença.

A personagem principal se chama Campion Lazender, e é a herdeira de um reino estupidamente rico na Inglaterra. Toda essa riqueza é cobiçada por um sociedade secreta chamada The Fallen Angels, que está inserida em uma sociedade secreta chamada Illuminatti (virei a cara nesse ponto, sociedades secretas me irritam desde a época em que o Dan Brown era febre, mas whatever), que desejam botar as mãos nesse dinheiro para financiar a revolução que tentava se espalhar para a Inglaterra. Entre esses dois mundos, está Gítan, um cigano que atua como agente duplo, e nunca sabemos aonde está sua verdadeira lealdade. A única coisa que temos certeza é que Campion se apaixona por ele (acredite, a Susanah Kells faz questão de jogar isso na sua cara um tantão de vezes).

O livro é meio inconstante, tendo momentos sensacionais seguidos de trechos de puro tédio. A maior ênfase no romance foi legal, é uma coisa que eu sentia um pouco de falta de mais desenvolvimento nos outros livros do Cornwell, mas me desagradou um pouco o jeito como esse romance acabou sendo preponderante pro final. O final acabou sendo meio óbvio, ainda que ao mesmo tempo tenha sido uma grande surpresa. Nesse livro aliás o Cornwell também se apoiou muito na questão do mistério, de "quem será o inimigo", o que eu acho meio cansativo (prefiro deixar isso para a Agatha Christie), mas pode agradar algumas pessoas. E a trama tem uns furos bem toscos, coisas que simplesmente não fazem sentido, mesmo pensando nas tolices que garotas tolas apaixonadas podem realizar. Mas, são poucos.

Mas embora eu fique botando defeito, é um ótimo livro. Os personagens clássicos do Cornwell estão aqui, e a Kells acabou dando uma dimensão diferente para alguns deles. O background histórico também é muito interessante, praqueles que gostam de história. Mas de algum modo eu acho que pode agradar mais a pessoas que nunca leram Cornwell do que a die hard fans.


O segundo livro se chama Scoundrel. Dessa vez assinado só pelo Cornwell, o livro chama atenção por ser o único livro dele (que eu tenha lido) que se passa nos dias de hoje (ou no começo da década de 90, quando o livro foi escrito), o que é bem esquisito, pois sempre pensamos no Cornwell como um autor de ficção histórica.

Mas que seja, esse livro simplesmente detona. Conta a história de um americano, Paul Shanahan, membro do IRA (exército republicano irlandês), que depois de anos trabalhando na organização, é deixado de lado por desconfiarem que ele é um espião da CIA infiltrado. Puto, ele se muda pra Bélgica e começa a trabalhar como técnico de barcos (fazendo avaliações, consertos, etc). Quatro anos depois, o IRA volta a contatá-lo, pedindo que ele transporte em seu barco, 5 milhões de dólares em ouro através do Atlântico, dinheiro que será destinado para a compra de 53 mísseis Stinger, que por sua vez serão usados nas táticas terroristas da organização.

O livro, porém, consegue ir além de um simples thriller político e consegue explorar, ainda que não tão profundamente como poderia, os recônditos da mente humana, desde os sentimentos de culpa frente à atitudes condenáveis como o terrorismo e o assassinato até à condenação de viver assombrado por um amor passado e a tentativa de espelhar esse amor em qualquer uma que apareça pela frente, num movimento desesperado para se sentir vivo de novo.

O final do livro é de um realismo frio que pode decepcionar algumas pessoas que esperam uma grande reviravolta em cada trama, mas que pra mim funcionou muito bem. Nem sempre todos nossos sonhos dão certo, e muitas vezes nem precisamos deles pra sermos felizes.

Dos livros isolados, esse certamente é o melhor Cornwell que eu já li.


P.S. Hoje é o aniversário da garota mais bonita que já pisou nesse mundo =)