quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Nebraska

- Does he have Alzheimer's?
- No, he just believes what people tell him.
- That's too bad.


De tempos em tempos aparece um filme que se mostra tão delicado em sua composição e em seu tema que é impossível não se sensibilizar e entrar totalmente na história. Nebraska é um desses filmes. A nova produção de Alexander Payne tem a cara dos filmes dele: leve, mas ao mesmo tempo profundo, melancólico, reflexivo e acima de tudo, bonito. Mas se em alguns outros filmes alguma coisa ou outra parecesse meio off, em Nebraska tudo se encaixa perfeitamente, fazendo, na minha opinião, o melhor filme de 2013.

Fotografado em um preto e branco insosso, Nebraska não trata essa fotografia como um mero recurso estilístico. O preto e branco faz parte da história, pois assistimos à jornada de um velho homem voltando à sua cidade natal e reencontrando não apenas seus velhos amigos, como as velhas paisagens e, claro, suas velhas memórias. É uma visita à small town America, onde o tempo parece não passar, e é um convite para procurarmos conhecer melhor nossos antepassados. Pois apenas conhecendo nossos antepassados podemos realmente entender nossas origens e entender assim o mundo à nossa volta.

O filme segue um velho morador de Montana, Woody Grant (Bruce Dern), que acreditando ter ganho um prêmio de um milhão de dólares, decide ir até Nebraska coletar seu dinheiro, nem que para isso tenha que ir a pé. O prêmio, no entanto, é apenas uma óbvia jogada de marketing, o que lhe é dito a todo momento por sua família. Vendo, porém, que não haveria como dissuadir seu pai, o filho David Grant (Will Forte) resolve levá-lo de carro até o distante estado, aproveitando o momento a dois para se aproximar um pouco de seu distante progenitor. Ao sofrer um pequeno acidente no caminho, eles decidem passar o fim de semana na pequena cidade rural de Hawthorne, onde Woody nasceu e cresceu e onde o resto de sua família ainda vive.


É daqueles filmes que parecem extremamente simples, mas que escondem um tanto de sutilezas em seu (magnífico) roteiro. Assim, é impossível passar pelo filme sem parar um instante que seja para pensar em o que significa ser idoso nos dias de hoje, e que tipo de vida nossos pais e avós tem. E ao nos aproximar deles e ao conhecer o contexto de suas vidas, o filme de certa forma nos ajuda a entendê-los e a superar comportamentos e atitudes que nem sempre entendemos muito bem e que nos parece estranhos, lentos e fora de contexto.

Afinal, é isso que David inconscientemente busca ao se voluntariar para levar o pai até o Nebraska. E é uma coisa engraçada: quanto mais nos aproximamos de nossos pais, avós e antepassados em geral, mais percebemos o quanto nós somos ignorantes sobre eles. Há um post em um blog que eu adoro, que fala justamente sobre isso:

"But I also used the visit (to my grandmother) as an opportunity to do something I have not done nearly enough in my life—ask her questions about our family. I don’t know you, but I can almost guarantee that you don’t ask your grandparents (or older parents) enough questions about their lives and the lives of their parents. We’re all incredibly self-absorbed, and in being so, we forget to care about the context of the lives we’re so immersed in. We can use google to learn anything we want about world history and our country’s history, but our own personal history—which we really should know quite well—can only be accessed by asking questions."

Isso é uma grande verdade, pelo menos para a maioria de nós. Eu, por exemplo, devo saber apenas os nomes dos meus bisavôs. Sei pouquíssimas coisas além disso. E mesmo meus avós, que tiveram um grande papel na minha criação, tem muita coisa que eu não faço idéia. Raios, deve ter muita coisa que eu não sei até sobre a minha mãe. E todas essas pessoas muito provavelmente tiveram vidas interessantíssimas, ricas e cheias de particularidades e muito do que elas foram ou fizeram meio que definem o contexto onde eu fui criado e, dessa forma, definem o que eu sou e o que eu faço hoje.


Assim, é lindo ver a forma como pai e filho vão passando por várias situações que, ainda que causem conflito em muitas das vezes, tem o resultado inevitável de aproximar os dois. E não apenas os dois, já que também acabamos por conviver com a mãe de David, Kate Grant (June Squibb) e seu irmão bem sucedido Ross Grant (Bob Odenkirk - sim, o Saul). E ao nos aproximar dos personagens, passamos a entendê-los em toda sua complexidade. Assim, se Woody no começo do filme nos parece apenas um velho alcoólatra, teimoso e insensível, ao longo do filme vamos entendendo melhor o contexto de sua vida e suas motivações que nem sempre são tão mesquinhas quanto as vezes parecem ser. Na verdade descobrimos estarmos diante de um homem generoso e até muitas vezes ingênuo, mas que por n motivos acaba se perdendo em sua amargura - muito disso vindo de sua relação com o álcool, mesmo essa relação sendo relativizada ao entendermos que sua cidade natal orbita em volta de bares e que "todos ali começam muito cedo".


E eu tenho até dificuldade em começar a falar sobre as atuações. Poucas vezes eu vi atores criando personagens tão reais e tangíveis. O Woody de Bruce Dern é construído com tanto cuidado e autenticidade que é difícil dizer que estamos vendo um filme e não algo real. Sua atuação é fundamental para estabelecermos a profundidade do personagem. Assim, mesmo nos momentos em que Woody é mais irritante, vemos ali um traço de desconforto, como se aquela pessoa incômoda sentisse uma ponta de remorso por se mostrar assim. Por outro lado temos o contraponto da falante Kate, que nos ajuda a imaginar perfeitamente a relação do casal. Jane Squibb também faz um trabalho fantástico aqui: sua Kate é impressionantemente real. Acredito que todos nós podemos ver a Kate em uma tia ou avó, mais distante ou mais próxima que seja. E seu senso de humor, aaah...

...é demais. Porque o filme não se contenta em apenas criar reflexões profundas sobre a vida, o universo e tudo mais. Ele é engraçado pra caramba. Ele tem um humor fino, irônico, muitas vezes sutil, que levou o cinema inteiro às gargalhadas diversas vezes. Trabalhando nisso não temos apenas a (já excelente) dinâmica entre os pais e os dois filhos, mas temos toda uma caricatura de personagens (o irmão de Woody e o resto da família), responsáveis por cenas divertidíssimas.


Alexander Payne conseguiu fazer nesse filme o que tentou em Os Descendentes e não conseguiu. Um filme sensível e reflexivo e, surpreendemente, divertido. Eu não era um grande fã dos trabalhos dele, mas ele ganhou o meu respeito (não que ele ligue pro respeito de um pseudo cinéfilo cujo blog ninguém lê, óbvio). Nebraska tem, definitivamente, a minha torcida na disputa do Oscar.

(A não ser que 12 Anos de Escravidão me surpreenda muuuito, claro.)


1. Nebraska (Nebraska) - Alexander Payne - 10,0
2. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) - Martin Scorsese - 10,0  
3. Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) - Chris Buck, Jennifer Lee - 9,5
4. Uma Aventura Lego (The Lego Movie) - Phil Lord, Christopher Miller - 9,0
5. Trapaça (American Hustle) - David O. Russell - 9,0  
6. Ninfomaníaca (Nymphomaniac) - Lars Von Trier - 8,5  
7. Ender's Game - O Jogo do Exterminador (Ender's Game) - Gavin Hood - 6,5
8. Confissões de Adolescente - Chris D'Amato, Daniel Filho - 6,0  
9. Jack Ryan: Operação Sombra (Jack Ryan: Shadow Recruit) - Kenneth Branagh - 6,0
10. Caçadores de Obras-Primas (Monuments Men) - George Clooney - 4,0
11. O Herdeiro do Diabo (Devil's Due) - Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett - 2,5  
12. Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal (Paranormal Activity: The Marked Ones) - Christopher Landon - 2,0













segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Caçadores de Fracassos

Eu acho extremamente difícil não gostar do George Clooney atuando. Mesmo nas vezes ele não faz um grande papel, o seu enorme carisma costuma ser o suficiente pra me prender em sua atuação. Quando o assunto é ele dirigindo, no entanto, seu carisma simplesmente não basta, é preciso algo mais. Nos dois filmes que eu havia visto com sua direção, esse algo mais estava lá, tanto em Boa Noite e Boa Sorte como no mais recente Tudo Pelo Poder.

Em Caçadores de Obras-Primas, infelizmente, esse algo a mais nem passou perto de suas mãos, muito pelo contrário. E olha que havia um elenco de peso pra fazerem as coisas darem certo. Nomes como Bill Murray, Matt Damon, Cate Blanchett, Jean Dujardin, além do próprio Clooney. E tudo em cima de um roteiro baseado em um livro que parece ser interessantíssimo.

Acompanhamos a história de Frank Stokes (Clooney), que durante a segunda guerra mundial recebe (ou, mais precisamente, reinvidica) a missão de resgatar milhares de obras de arte que correm um grande perigo de acabarem destruídas ou roubadas em uma Europa sendo devastada pela guerra. Sob o argumento de que vidas humanas vem e vão, mas que ao se perder sua cultura, suas realizações, sua história, seria como se esse povo nunca houvesse existido, Frank convoca vários especialistas para o ajudar na missão (Onze Homens e Um Segredo feelings) e partem para a guerra.

Mas nada no filme parece dar certo, a começar pelo roteiro, extremamente confuso e equivocado, tentando inserir comédia de maneira extremamente forçada e criando dramas que simplesmente não fazem sentido (em especial o trecho final). As atuações são todas muito divertidas, mas acabam perdendo o brilho em um filme confuso e sem ritmo.

Graças à direção que, bem, é desastrosa. O Clooney errou totalmente a mão aqui, de uma maneira até meio incompreensível pra um cara talentoso como ele. É como se ele estivesse trying too hard. Em quase todas as cenas temos um momento sentimental pseudo profundo, com uma trilha sonora crescendo e um ou outro diálogo que teoricamente deveria nos fazer pensar em como estamos vendo uma coisa inteligente. É simplesmente cansativo.

A direção falha ainda ao tentar estabelecer qualquer tipo de noção espacial. Em momento nenhum conseguimos ter certeza de onde os personagens estão. Mesmo com o uso artificial de mapas mostrados na tela, não é possível entender bem aonde cada um está. Primeiro eles estão juntos na Normandia, aí um aparece em outro lugar que só depois descobrimos ser Paris, aí vemos mais dois que parecem separados do grupo, mas não conseguimos bem acompanhar onde eles estão... é uma confusão.

Voltando ao papo das expectativas, era normal esperar um filme bom com nomes como os citados em seu elenco e staff. Caçadores de Obras-Primas tem alguns momentos divertidos e um tema interessante, mas se teve uma coisa que esses caçadores ficaram longe de alcançar foi, bem, uma Obra-Prima.

1. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) - Martin Scorsese - 10,0    
2. Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) - Chris Buck, Jennifer Lee - 9,5  
3. Uma Aventura Lego (The Lego Movie) - Phil Lord, Christopher Miller - 9,0
4. Trapaça (American Hustle) - David O. Russell - 9,0    
5. Ninfomaníaca (Nymphomaniac) - Lars Von Trier - 8,5    
6. Ender's Game - O Jogo do Exterminador (Ender's Game) - Gavin Hood - 6,5  
7. Confissões de Adolescente - Chris D'Amato, Daniel Filho - 6,0    
8. Jack Ryan: Operação Sombra (Jack Ryan: Shadow Recruit) - Kenneth Branagh - 6,0
9. Caçadores de Obras-Primas (Monuments Men) - George Clooney - 4,0  
10. O Herdeiro do Diabo (Devil's Due) - Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett - 2,5    
11. Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal (Paranormal Activity: The Marked Ones) - Christopher Landon - 2,0

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Trapaceando Expectativas

Ainda no clima de expectativas, o filme que eu mais esperava ver nesse começo de ano era Trapaça. Eu venho prestado atenção nos últimos trabalhos do diretor David O. Russell, que após uma sequência de trabalhos de pouca expressão (não vi nenhum deles) no final da década de 90 e começo dos anos 2000, vem com uma carreira ascendente com dois filmes excelentes desde 2010: O Vencedor e O Lado Bom da Vida.

  Se O Vencedor trazia Christian Bale e Amy Adams com os papéis princiais e O Lado Bom da Vida Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos sendo indicados ao Oscar nessa brincadeira e com Bale e Lawrence ganhando), o novo trabalho de Russell prometia muito ao colocar os quatro atores frente a frente. Trazia ainda o duas vezes indicado ao Oscar Jeremy Renner junto com talvez o meu comediante favorito, Louie C.K. e um marketing forte, com diversos pôsteres divertidos, além de um dos trailers mais legais que eu já vi, que não diz nada sobre o filme mas é alucinantemente divertido.

Por tudo isso, eu acabei me frustrando um pouco quando finalmente vi o filme. Não achei ruim, mas sai do cinema extremamente decepcionado. Mas aí parei pra pensar, e desde então eu cheguei a conclusão de que estou sendo injusto com o filme. Trapaça é um filme muito bom. Tem seus problemas, e na minha opinião está um pouco abaixo tanto de O Lado Bom da Vida quanto de O Vencedor, mas é sim um filme muito bom.


O filme conta a história de um casal de trapaçeadores (Bale e Adams) que acabam sendo forçados a trabalhar com um agente do FBI insano (Cooper) tentando flagrar políticos (em especial o interpretado por Renner) corruptos e mafiosos em atividades ilícitas. Temos ainda a mulher do personagem interpretado por Bale (Lawrence), louca e imprevisível e o chefe do personagem de cooper, interpretado pelo Louie C.K., que sofre nas mãos de seu ambicioso subordinado.

  Tem bastante gente falando que o filme é uma grande homenagem ao Scorsese, e meio que é mesmo. Se o tema, as constantes narrações em off e uma trilha sonora marcante deixavam alguma dúvida, a ponta do Robert De Niro lá pelo meios do filme trata de resolvê-las. O que mais chama atenção no filme, porém, é o design de produção, extremamente caricato, estilizado e artificial, brincando com a própria idéia do filme de trapaças e disfarces.

E os personagens são divertidíssimos. Tanto o trapaceiro interpretado por Bale quanto o investigador interpretado por Cooper não se limitam a ser apenas uma caricatura, mas são personagens complexos e tridimensionais. Amy Adams também constrói uma personagem fantástica, que nunca sabemos o que está realmente pensando e o quanto de suas ações e demonstrações de sentimentos são genuínas ou forjadas - afinal, desde o começo sabemos o quanto ela é inteligente e trapaçeira. Jeremy Renner surge como o político bem intencionado que acaba sendo pego pelo agente de Cooper, que por sua vez ao longo do filme acaba se mostrando mais preocupado com sua carreira do que com seu ideal de justiça.

O ponto que destoa um pouco é a mulher interpretada por Jennifer Lawrence, que parece extremamente deslocada no papel. Não que ela esteja atuando mal - não está - mas, como eu li em algum lugar, ela foi extremamente mal escolhida para o papel, que pedia uma mulher mais velha. Ver ela atuando nesse filme com aquela cara de criança dava a impressão de ver uma menina brincando de interpretar uma mulher.

Então sim, eu gostei muito do filme. Mas ficou faltando alguma coisa que eu não sei bem o quê. O filme não me emocionou de maneira nenhuma e o final é um pouco previsível, ainda que seja divertido e dialogue bem com a máxima que transcorre o filme inteiro "people believe what they want to believe"

Vale pela diversão, pelas risadas e pelas atuações.

1. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) - Martin Scorsese - 10,0  
2. Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) - Chris Buck, Jennifer Lee - 9,5
3. Uma Aventura Lego (The Lego Movie) - Phil Lord, Christopher Miller - 9,0
4. Trapaça (American Hustle) - David O. Russell - 9,0  
5. Ninfomaníaca (Nymphomaniac) - Lars Von Trier - 8,5  
6. Ender's Game - O Jogo do Exterminador (Ender's Game) - Gavin Hood - 6,5  
7. Confissões de Adolescente - Chris D'Amato, Daniel Filho - 6,0  
8. Jack Ryan: Operação Sombra (Jack Ryan: Shadow Recruit) - Kenneth Branagh - 6,0
9. O Herdeiro do Diabo (Devil's Due) - Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett - 2,5    
10. Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal (Paranormal Activity: The Marked Ones) - Christopher Landon - 2,0

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sobre Expectativas e Legos

Eu gosto muito de ver filmes sem fazer nem idéia do que se trata. Eu acho que a nossa opinião sobre cada coisa é extremamente influenciada pela expectativa que temos no momento que entramos em contato com essa coisa. Certa vez eu fui convidado para ver um filme "no escuro". Me deram o horário e o lugar, mas o filme só seria revelado ao ser iniciado. Infelizmente não pude ir, mas eu acho a idéia fascinante.

É claro que isso é virtualmente impossível nos dias de hoje. No caso acima eu não saberia qual filme eu iria assistir, mas no momento em que ele começasse eu provavelmente já ia ter ouvido falar do filme, ia reconhecer alguns atores e ia criar uma expectativa boa ou ruim em poucos segundos. Meu ponto não é que a gente tenha que se desligar totalmente das notícias até ver determinada obra, mas sim tentar ao máximo se livrar de pré conceitos antes de entrar em contato com o material em si.

Feita essa breve (e levemente inútil) introdução, vos digo que assisti Uma Aventura Lego nos cinemas esses dias e que eu não tinha expectativa nenhuma sobre o filme.



É claro que isso é mentira. Por mais desinformado que eu estivesse sobre o filme, a pouca expectativa que eu tinha era baixa. Achei que fosse ser uma animação genérica feita como um grande comercial para a Lego.

Por um lado eu estava certo, por outro eu não poderia estar mais errado.

É sim um grande comercial para a Lego. Raios, até eu saí da sala querendo comprar Legos novos e montar altas paradas no meio da minha casa. O filme passa pelos mais diversos temas de brinquedos da Lego, desde os espaciais, até os de faroeste, passando pelos mais femininos (alô machismo) e pelos mais específicos, de filmes e séries. Temos inclusive várias "participações especiais", como o Batman, o Super Homem, Dumbledore, Gandalf, Chewbacca, C3PO (dublado pelo próprio Anthony Daniels inclusive), Abraham Lincoln e muitos (muitos) outros.



Maaas a animação e a história não tem nada de genéricas.

A animação é de uma criatividade absurda e simula um stop motion que nos passa a nítida impressão de estarmos diante de alguém brincando com os Legos. O filme passa pelos cenários mais distintos e em momento nenhum se preocupa em parecer factível ou não. Novamente, temos a sensação de estarmos em uma grande brincadeira.

E isso dialoga de maneira brilhante com a história, que conta como o malvado Sr. Negócio tem o maquiavélico plano de acabar com a criatividade anárquica colando todas as coisas em seus devidos lugares, mantendo a ordem do mundo de maneira permanente. Para impedir isso, o mago Vitruvius instrui um simples operário a se tornar o Mestre Construtor, capaz de construir as coisas mais criativas e dinâmicas possíveis sem utilizar o manual de instruções acabando assim com o plano do Sr. Negócio. Não que a história seja genial nem nada, mas ela é contada de uma maneira adorável, e tem em seu terceiro ato uma reviravolta - não totalmente inesperada, mas que acaba dando um sentido todo especial para o enredo.



A parte triste, mais uma vez, é que não saiu uma singela cópia legendada nos cinemas brasileiros, então até que saia em dvd ou netflix ou whatever, não poderemos contar com as vozes de Morgan Freeman, Jonah Hill, Liam Nesson e Will Ferrell (dentre muitos outros).

1. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) - Martin Scorsese - 10,0
2. Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) - Chris Buck, Jennifer Lee - 9,5
3. Uma Aventura Lego (The Lego Movie) - Phil Lord, Christopher Miller - 9,0
4. Ninfomaníaca (Nymphomaniac) - Lars Von Trier - 8,5
5. Ender's Game - O Jogo do Exterminador (Ender's Game) - Gavin Hood - 6,5
6. Confissões de Adolescente - Chris D'Amato, Daniel Filho - 6,0
7. Jack Ryan: Operação Sombra (Jack Ryan: Shadow Recruit) - Kenneth Branagh - 6,0
8. O Herdeiro do Diabo (Devil's Due) - Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett - 2,5  
9. Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal (Paranormal Activity: The Marked Ones) - Christopher Landon - 2,0

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Jack Ryan: Operação Genérica

Poster animal
Meados de fevereiro, Oscar chegando, dezenas de filmes "oscarizáveis" pedindo para serem vistos no cinema, e o que eu vou ver no sábado à noite? Jack Ryan!



Embora nunca vá ganhar nenhum tipo de prêmio, é um filme legal. É baseado no personagem criado pelo Tom Clancy, embora essa seja uma história original, não sendo baseada em nenhum livro específico. Também é uma homenagem ao autor, que morreu em outubro do ano passado. Eu nunca li nada dele, mas sempre tive curiosidade, e dando uma breve pesquisada aqui acabei de descobrir que existem outros filmes sobre livros dele, e filmes famosos como A Soma de Todos os Medos, A Caçada ao Outubro Vermelho e Jogos Patrióticos. Não fazia idéia. O filme é dirigido por Kenneth Branagh (o eterno Professor Lockhart), que também interpreta o vilão).

Embora eu diga que esse novo Jack Ryan: Operação Sombra é um filme legal, ele flerta demais com o genérico para eu conseguir considerá-lo um ótimo filme. A história segue a trajetória de Jack Ryan (duh), interpretado por Chris Pine, um agente da CIA atuando secretamente em Wall Street, que descobre um plano de um atentado terrorista russo que seria seguido de uma venda massiva de dólares por organizações russas que trariam um colapso ao mercado americano e mundial. Entendem o que eu quero dizer com "genérico"?

E me incomodou muito o maniqueísmo do filme, trazendo russos malvados contra americanos bonzinhos. O filme falha ainda ao explorar esse enredo de maneira extremamente superficial. Nada é muito explicado e as nuances dos planos dos russos e dos americanos são deixados totalmente de lado. Você não precisa entender porquê eles estão fazendo aquilo, apenas tem que torcer para eles conseguirem fazer.


Branagh, Knightley e Pine

E aí o filme funciona. Quando você deixa de buscar algum profundidade no filme e apenas começa a apreciar as cenas de espionagem e de ação, o filme fica bem legal. A sequência final, tanto na Rússia quanto em Nova Iorque são bem tensas e bem filmadas. E o elenco, embora não brilhe (difícil brilhar nesse filme), é bem competente: traz ainda o Kevin Costner como o mentor de Ryan e Keira Knightley como sua mulher. E, last but not least, o Ryan é torcedor dos Ravens! :D

Não é de maneira nenhuma algo que que vá mudar sua vida ou fazer você pensar sobre sua existência, mas se você está apenas buscando um filme de ação para entreter o seu sábado à noite, Jack Ryan: Operação Sombra é uma escolha acertada.

1. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) - Martin Scorsese - 10,0
2. Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen) - Chris Buck, Jennifer Lee - 9,5  
3. Ninfomaníaca (Nymphomaniac) - Lars Von Trier - 8,5  
4. Ender's Game - O Jogo do Exterminador (Ender's Game) - Gavin Hood - 6,5  
5. Confissões de Adolescente - Chris D'Amato, Daniel Filho - 6,0
6. Jack Ryan: Operação Sombra (Jack Ryan: Shadow Recruit) - Kenneth Branagh - 6,0 
7. O Herdeiro do Diabo (Devil's Due) - Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett - 2,5  
8. Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal (Paranormal Activity: The Marked Ones) - Christopher Landon - 2,0

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

House of Amazing Cards


Resolvi começar a assistir essa série sem saber quase nada sobre ela. Só sabia que era sobre política, e séries políticas me atraem bastante (até hoje eu quero muito ver o resto de The West Wing, me ajude com isso Netflix). Quando eu vi que, além disso, ela era protagonizada pelo Kevin Spacey e que os primeiros episódios eram dirigidos pelo David Fincher, não pensei duas vezes.

E maaan, que decisão acertada. House of Cards é simplesmente sensacional.



Seguindo a tendência atual de protagonistas vilões (o melhor deles provavelmente sendo Walter White), a série conta a história do Deputado Francis Underwood (Spacey) em sua busca pelo poder. Ao contrário de Walter White, entretanto, não vemos um personagem bom que, aos poucos e devido às escolhas feitas na vida, vai se tornando mal. Underwood é um sociopata assustador desde a primeira cena do primeiro episódio, quando ele sacrifica um cachorro recém acidentado sem nem pensar duas vezes.

É um homem que sabe exatamente o que quer e que é capaz de praticamente qualquer coisa pra conseguir chegar ao seu objetivo. Pra isso, ele tem a ajuda de sua mulher (Robin Wright, que fez a Erica em Millennium, também com o Fincher), que é quase um espelho de Underwood: fria e calculista, embora no meio da temporada você perceba que nem sempre ela consegue se manter sempre firme (como Underwood consegue). A relação deles é interessantíssima, sendo mais a de aliados que a de amantes.


Mas o relacionamento que leva a série pra frente e a coloca em outro patamar é a de Underwood e Zoe Barnes (interpretada por Kate Mara, irmã da Rooney Mara), uma jornalista ambiciosa e brilhante. O relacionamento entre os dois dialoga um pouco com o meu último post, sobre fluxos de informação.


A sigilosidade de uma fonte é uma coisa sagrada para os jornalistas, em especial nos Estados Unidos. E isso é algo muito complicado. Assim, políticos inescrupulosos (como Underwood) podem vazar uma, duas informações sigilosas mas inofensivas. O jornalista, claro, as publicará rapidamente, vendo com felicidade que tudo era verdade e que sua reportagem foi um grande "furo". Até que um dia a "fonte" resolve vazar uma informação crítica, ou falsa, cuja publicidade atenderá apenas aos seus interesses. E, como essa fonte havia se provado confiável no passado, o jornal vai e publica, criando uma enorme polêmica ou confusão.

Esse tipo de relação é bastante explorada pela série, e é fascinante ver a maneira como Underwood joga com isso e como cada informação que ele passa para Zoe é cuidadosamente planejada para ter um efeito específico. E suas manipulações e jogos políticos não param por aí. A cidade de Washington parece um grande tabuleiro de xadrez onde Underwood vai mexendo peça por peça em busca do seu objetivo. Obviamente, porém, ele não é o único jogador e nem sempre as coisas dão totalmente certo pra ele, mas é justamente nessas horas que a gente pode observar as mudanças de estratégias que são também incríveis.


Nada que eu vá escrever aqui será suficiente para enaltecer o trabalho que o Kevin Spacey faz nessa série, mas eu não posso deixar de dizer o quão especial sua atuação é. Não que o resto do elenco fique muito pra trás: as atuações de um modo geral são todas fantásticas.

Outro ponto legal da série que eu não posso deixar de mencionar é o modo como Underwood conversa com o espectador frequentemente durante os episódios, falando e olhando diretamente para a tela. Isso nos aproxima do personagem e em determinados momentos auxilia o roteiro ao explicar determinadas ambições ou estratégias.

E a temporada acaba de maneira brilhante. Ela tem um closure, mas ao mesmo tempo muitas coisas grandes estão prestes a acontecer. É o cliffhanger perfeito. Por pura coincidência, dei a sorte de terminar de ver a série uma semana antes do lançamento da segunda temporada, então dia 14 de fevereiro estamos aí!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O Monopólio da Informação

É tão bom assistir uma aula que te cativa e te deixa realmente interessado pelo tema.

Isso não costuma acontecer comigo. Nem sempre tive boas experiências nas faculdades que fiz, sou capaz de contar nos dedos o número de aulas que me deixaram assim. Em administração provavelmente nenhuma. Em história eu tive um grande professor que tornava cada aula sobre Marx a coisa mais interessante do mundo. Em relações internacionais na PUC aconteceu algumas vezes quando eu estudei a formação do sistema internacional. E em relações internacionais na UFRJ, eu acho que aconteceu pela primeira vez essa semana, no meu maldito oitavo período.

(sim eu fiz várias faculdades, mas - ainda - não terminei nenhuma).

Enfim, esse blablabla todo era só pra dizer que eu tive uma aula sobre um tema interessantíssimo e que eu gostaria de compartilhar com os leitores imaginários desse blog (sim, você mesmo). A aula era sobre fluxos internacionais de comunicação.

Naturalmente, muito se falou sobre tecnologia, sobre como a internet está revolucionando a velocidade e o modo como nós nos relacionamos com as notícias e sobre como hoje em dia qualquer pessoa é capaz de dar opiniões para milhares de outras.

E isso é verdade. Qualquer pessoa hoje pode ir e despejar um monte de coisa em um post - normalmente - presunçoso no Facebook (ou em um blog =P). Todo mundo tem opinião sobre tudo, e hoje podemos fazer essas opiniões chegarem muito mais longe do que há 20 anos atrás. Mas as opiniões, naturalmente, devem estar sempre ligadas à um fato. E quem apura os fatos? Normalmente não são as mesmas pessoas que dão as opiniões, principalmente quando estamos falando de pessoas "normais", não formadas em comunicação e, bem, que não sejam repórteres. Quem faz essa apuração normalmente é a mídia.

Então temos que nós formamos nossas opiniões a partir de fatos apurados pela mídia. Em veículo de grande porte, como o Globo ou a Folha, temos, sei lá, 300 profissionais trabalhando nisso diariamente. Bastante gente? Será? E lá fora? Segundo meu professor, o Globo, por exemplo, mantinha cerca de 16 correspondentes estrangeiros há alguns anos atrás. O que 16 pessoas conseguem apurar no mundo inteiro? Virtualmente nada, apenas notícias bombásticas que atraem a atenção de todo mundo e que no fundo nem precisaria dele ali.

Então, como a gente tem acesso à tantas notícias sobre o resto do mundo? Isso acontece via Agência de Notícias, uma coisa que eu já tinha ouvido falar mas eu nunca tinho entendido muito bem como funcionava. As grandes agências internacionais de notícia possuem cada uma cerca de 3 mil funcionários no mundo todo (a maior delas, Reuters, tem 60 mil). É gente pra caramba apurando notícia pra caramba. Assim, eles formam um enorme banco de dados de notícia, que são então vendidas para a mídia tradicional. Algo como um atacado de informação. Então a notícia sobre a crítica do relatório da ONU feita pelo Vaticano que você pode ver no G1 não foi apurada pelos repórteres do site do Globo. Como grande parte das notícias expostas na sessão internacional, ela foi comprada de uma dessas agências de notícias (e você pode ver lá, escrito logo acima matéria "Da EFE", significando que foi comprada da EFE, uma agência de notícias espanhola).

Até aí tudo muito bem (mais ou menos). O pulo do gato está no seguinte: as 4 maiores agências de notícias do mundo (EFE, AFP, AP e Reuters) foram responsáveis no ano passado pela apuração de cerca de 94% das notícias do mundo. Isso é surreal. Todos as opiniões que damos sobre os fatos que acontecem lá fora são baseados na apuração de apenas 4 agências.

E tem mais: duas delas não possuem fins lucrativos (AP e AFP) e uma, embora seja atualmente uma sociedade anônima, atuou por anos no vermelho (EFE). Isso significa que elas são basicamente empresas cujo objetivo primário não é o lucro, e sim a apuração de notícias. Ora, como explicar que elas continuem sobrevivendo dessa forma? É claro que existe um óbvio interesse estatal em manter essas empresas funcionando e o sistema do jeito que ele está, mantendo assim o controle sobre esse monopólio de notícias.

E isso é problemático pra caramba.

Assim, quando um jornalista brasileiro compra uma notícia da Associated Press, uma agência de notícias americana, e a traduz e publica em um jornal local, ele está traduzindo uma notícia que foi apurada a partir de uma visão de mundo americana. E eu nem estou querendo entrar em teorias conspiratórias de manipulação de informação (que com certeza deve existir também, mas enfim), mas isso por si só já é problemático. Da mesma forma, são essas agências de notícias que definem o que é ou não prioridade. Se a Reuters diz que o conflito na Síria é a grande prioridade do dia, nenhum jornal brasileiro, por exemplo, vai lutar contra isso e escolher outra notícia para dar destaque, ficando como "o único jornal que não falou sobre aquele fato importantíssimo que todos os outros jornais falaram que aconteceu na Síria".

Então, no fundo, a imprensa local de cada país é apenas um espelho de notícias apuradas por uma minoria, que refletem, por sua vez, os interesses de potências como os Estados Unidos, França e Inglaterra. 

Complicado.



Enfim, provavelmente tem algumas besteiras aí no meio, mas eu não sou nenhum pesquisador nem nada, sou apenas um interessado no tema. Quem sabe no futuro eu não possa ir mais a fundo? Pelo menos escrever isso foi bom pra dar uma estudada e manter a matéria fresca na cabeça :D

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Massacre Bowl XLVIII

Poucas coisas me deixam mais irritado do que coisas que prometem ser fantásticas e acabam sendo patéticas.


Eu tinha grandes expectativas pra esse Super Bowl. Não esperava de maneira nenhuma que fosse tão alucinantemente bom quanto o do ano passado - não só pela vitória dos Ravens - mas esperava um jogão, disputado até o último minuto e decidido nos detalhes.

O Super Bowl XLVIII não foi decidido nos detalhes. Ou foi: o pequeno detalhe de que o Denver errou tudo que tentou e o pequeno detalhes que o Seattle fez uma partida virtualmente perfeita. Foi um massacre. 

Um massacre que já começou com um dos começos de Super Bowl mais bizarros da história, com um snap fora de hora e um safety para os Seahawks. Na hora eu pensei "putz, isso vai desestabilizar os Broncos". Há quem diga que desestabilizou mesmo, mas depois de tudo que eles apanharam durante o jogo inteiro eu considero uma falta de respeito com o Seahawks dizer que uma vitória desse calibre foi fruto de um... detalhe.

O time do Seahawks é um absurdo. Eu canto eles como favoritos pro Super Bowl desde as primeiras rodadas, e não porque "ho ho eu sou foda e manjo pra caralho dos paranauê", mas porque era uma parada quase óbvia - todos os analistas falavam a mesma coisa e a campanha do time deixava pouca margem pra dúvida. Mas nem precisava de analistas e campanha, era só ver o time jogando que você ficava assombrado.

E é óbvio que a defesa tem que ser exaltada. Eu acompanho o futebol americano há relativamente pouco tempo (uns 3 anos), mas eu nunca vi uma secundária como aquela (deixando os nomes idiotas de lado). Agressiva, veloz, forte, inteligente. É uma pena que o Sherman seja um babaca, mas não há muito que se possa falar mal dele dentro de campo.

Mas o meu jogador preferido no time de Seattle é, duh, o quarterback. Do alto de seus 1,80m (eu me sinto um anão quando chamam ele de baixinho, mas é a vida), o Russel Wilson demonstra uma maturidade dentro e fora de campo extremamente incomum para um jogador apenas em sua segunda temporada. Ele, obviamente, tem ótimos números (apenas 9 interceptações), mas não são os números que o destacam. Ele não fez um temporada regular como a do Manning, nem playoff com números absurdos como o Flacco ano passado: é o seu equilíbrio, a sua calma, a sua serenidade que me atraem nele. Ele tem um bom passe, ele se mexe bem, ele sabe correr com a bola. E eu nunca vi ele se desesperar. Erra, sim, mas como todos erram, as vezes por falha, as vezes por azar, mas ele parece tratar isso com a maior naturalidade do mundo. Você não vê ele psicologicamente afetado por um erro, você não vê ele jogando a bola pra qualquer lado quando a linha defensiva chega perto dele.

A defesa é a melhor da NFL - fato. Mas o Seahawks não teria chegado aonde chegou sem o Wilson.

E os Broncos? Eu torcia pra eles. Sou um grande fã do Peyton Manning, acho ele um cara fantástico e talvez o melhor quarterback que eu já vi jogar. Mas ontem as coisas simplesmente não funcionaram em momento nenhum. Cada first down (foram poucos) era uma luta desesperada, sempre ficava a dúvida se haviam passado ou não da linha imaginária. E as (pouquíssimas) jogadas explosivas eram instantaneamente canceladas pelo Seattle, com fumbles forçados e interceptações. O time pareceu sim sofrer com o baque do começo desastroso, mas isso é muito pouco pra explicar o fato de todo mundo ter jogado mal - jogadores e técnicos.

E, bem, por mais que eu adore o Manning, não dá pra manipular os fatos e dizer que ele não dá uma arregada em momentos decisivos. São fatos. Eu fui checar alguns números: ele tem mais derrotas que vitórias em playoffs (11-12) e em Super Bowls (1-2). Vale lembrar que ano passado, embora o lance mais marcante e decisivo tenha sido a falha do safety no touchdown do Jacoby Jones (passe lindo do Flacco :D), o lance que deu a chance pros Ravens chutarem um field goal na prorrogação foi uma interceptação do Peyton.

Os irmãos podiam se juntar: o Peyton joga a temporada regular e o Eli joga os playoffs. Não ia ter pra ninguém.


A AFC tem muito o que evoluir se quiser voltar a mandar um representante vencedor para os Playoffs. 
 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A Beleza de Lórien

Minha capa de livro preferida
Eu sou um enorme fã do Tolkien. Nenhum autor conseguiu criar um mundo como o dele e, mais importante, te inserir dentro dele de maneira tão viva.

Li O Senhor dos Anéis pela primeira vez em 2002, pouco antes do lançamento do primeiro filme, e já o reli algumas vezes desde então. Estou relendo-o mais uma vez atualmente, e eu sempre fico fascinado com algum detalhe que me passou despercebido em outras leituras.

Muita gente reclama que o Tolkien era excessivamente descritivo e que os seus livros são muito cansativos de se ler. Embora eu entenda o que essas pessoas querem dizer, eu não vejo isso como algo negativo - e na verdade nem é esse exagero todo. De qualquer forma, eu acabei de chegar na parte onde a comitiva chega em Lórien. Todos entram de olhos vendados (em respeito ao Gimli). No momento em que lhes é permitido retirar as vendas, Frodo tem a oportunidade de observar a linda floresta de Lórien pela primeira vez ao seu redor, e o Tolkien não poderia descrever o que ele vê de maneira mais linda. Transcrevo, portanto:

"Os outros se jogaram sobre a relva cheirosa, mas Frodo continuou de pé por uns momentos, ainda pasmo e admirado. Tinha a impressão de ter atravessado uma janela alta que dava para um mundo desaparecido. Havia uma luz sobre esse mundo que não podia ser descrita na língua dele. Tudo o que via parecia harmonioso, mas as formas pareciam novas, como se tivesse sido concebidas e desenhadas no mesmo momento em que lhe tiraram a venda dos olhos, e ao mesmo tempo antigas, como se tivessem existido desde sempre. Frodo não viu cores diferentes das que conhecia, dourado e branco e azul e verde, mas eram novas e pungentes, como se naquele mesmo momento as tivesse percebido pela primeira vez, dando-lhes nomes novos e maravilhosos. Naquela região, no inverno, ninguém podia sentir saudades do verão ou da primavera. Não se podia ver qualquer defeito ou doença ou deformidade em cada uma das coisas que cresciam sobre a terra. Não haviam manchas na terra de Lórien."