quarta-feira, 18 de junho de 2014

Calma x Apatia

As vezes eu tenho a impressão de que rola uma confusão entre esses dois conceitos.

É bastante comum ver técnicos e analistas falando em como times que precisam atacar e buscar o gol precisam ter paciência, precisam tocar a bola sem desespero, precisam ter calma. Eu concordo totalmente com isso, mas muitas vezes os times confundem essa calma com apatia. Na preocupação de não entrarem em campo muito nervosos, entram em campo calmos demais, devagar demais e acabam tendo uma extrema dificuldade em "entrar" no jogo e criar as oportunidades. O Flamengo é mestre nisso.

Faço esse parágrafo lembrando do jogo da Bélgica de ontem. O time belga é considerada por muitos como a grande candidata a ser a surpresa da Copa (o que é um título estúpido). Muito se falava em como o time é talentoso, como é a geração de ouro da Bélgica, como eles destruíram todo mundo nas eliminatórias (as poderosas Croácia, Sérvia, Escócia, País de Gales e Macedônia) e como eles com certeza iam golear impiedosamente o frágil time da Argélia.

Diante de tanta pressão, é natural que os técnicos tenham recomendado calma ao jovem time belga. E calmo o time entrou.

Calmo. Ou apático?
 
Nem Alá ajuda.

Foram 45 minutos de muito toque de bola entre os zagueiros, espaços para o contra ataque e pouquíssima penetração. O time belga tocava a bola calmamente, esperando a oportunidade certa aparecer. Mas o que apareceu foi o contra ataque argelino e o pênalti bobo do lateral direito. Nem a derrota de 1x0 pareceu mexer com os belgas.

No intervalo, finalmente, algo foi feito. Não apenas as entradas de Fellaini e do Mertens, mas pelo brio que dominou o time belga. Com muito mais intensidade e com ajuda da bela partida do De Bruyne (que se aproximou do Hazard, fazendo o lado esquerdo funcionar), a Bélgica conseguiu a (justa) virada. Vale ressaltar que a Argélia fez uma boa partida e se postou muito bem defensivamente. Em um time sem muito talento, se destacaram o rápido Feghouli e o goleirão Mbolhi.

Se não tivesse esse cabelo a bola ia bater na careca e ir pra fora.

Já Rússia e Coréia do Sul fizeram um jogo bem animado. Apesar do empate, o jogo foi bem aberto, os dois times buscando a vitória. O grande problema é que as duas equipes são bem fracas tecnicamente, não fosse isso esse teria tudo pra ser um jogo realmente bom. Acho que foi o jogo mais equilibrado da Copa até agora (talvez junto com Suiça x Equador) e não apenas pelo resultado. Ficou claro, porém, que os dois times não vão longe na competição. Serão coadjuvantes. Sorte da Alemanha, que tem tudo para enfrentar um dos dois nas oitavas. O grande destaque do jogo, entretanto, foi o primeiro grande frango da Copa. E eu sempre comprava esse Akinfeev no Football Manager!

Essa foto simplesmente precisava estar nesse blog.


E também teve o jogo do Brasil né, embora esse já seja da segunda rodada.Ando meio incomodado com esse calendário da Copa. Primeiro esses jogos imbecis as 13h, no meio calorzão. Eu entendo que isso seja visando a audiência televisiva europeia, que teria dificuldades em assistir jogos mais tarde, mas isso deveria ter sido repensado quando realmente existe uma perda técnica.

Minha opinião sobre o jogo é bem simples: não foi bom, mas não foi tão ruim quanto estão falando. Novamente, o Brasil mostrou como tem dificuldade quando precisa propôr o jogo enfrentando um adversário fechado (o que é bastante problemático, visto que esse é o caso 90% das vezes que o Brasil entrar em campo). Mas ainda assim o Brasil criou chances e merecia vencer, ainda que o México tenha se postado muito bem no campo de defesa. Não contávamos, porém, com Ochoa, que acabou com o jogo (07/05/2008 feelings). Se a média de gols da Copa diminuiu hoje, muito é por causa dele.

Pegando até bola que vai pra fora!

O Brasil vem sofrendo bastante com o baixo rendimento de alguns jogadores chaves, principalmente o Paulinho, que vem de uma fraca temporada no Tottenham e ainda não se encontrou em campo nesses dois jogos. Suas atuações ruins tem sobrecarregado o Luis Gustavo e deixando espaços no meio, e ainda obrigam Neymar e Oscar a voltar para buscar o jogo, deixando os dois muito longe do Fred, que fica isolado. A entrada do Ramires não funcionou nem um pouco, ficou preso na direita e jogou o Oscar lá para a esquerda, onde ele não rendeu tanto. Com o Bernard o Brasil ganhou mais poder ofensivo, mas ao mesmo tempo perdeu o meio de campo (já prejudicado pela fraca atuação do Paulinho). Assim, ficou um buraco entre os volantes e a zaga brasileira, por onde os atacantes mexicanos fizeram a festa. Por sorte, David Luis e Thiago Silva estão jogando demais, então os mexicanos só ameaçaram em chutes de longa distância (e vale mencionar que o Júlio mostrou muito mais segurança nesse jogo: ele estava em todas as bolas, embora quase todas tenham ido pra fora).

Beijinho no ombro.

Talvez seja o caso de colocar o Hernanes, não sei. Ele não faz exatamente o mesmo papel do Paulinho, mas ele é bem versátil e pode funcionar bem ali no meio, especialmente nesse jogos contra times de menos força. De qualquer maneira, o não acho que o Brasil tenha jogado tão mal assim. É preciso desvincular o resultado da atuação. Se aquela (linda) cabeçada do Neymar entra (e deveria ter entrado), por exemplo, o México seria obrigado a sair pro jogo e talvez agora estivéssemos analisando uma goleada brasileira e não um empate frustrante. Futebol é muito circunstancial, mas também não podemos ficar trabalhando em cima de "se". Fica, de qualquer forma, o ensinamento, que talvez passasse batido em uma suposta vitória.

Apesar do 0x0, não foi um jogo ruim. Ficou, porém, um gosto amargo. Nas palavras, novamente, do Márvio dos Anjos:

"O sentimento nacional, claro, abomina o zero a zero, ainda mais numa Copa que festeja sua média alta de gols por partida. O gigante acordou de ressaca nesta quarta, envergonhado por sonegar seu tributo a um torneio que nos encanta e transforma cada dia num domingo inesquecível."

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